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De olhos bem fechados

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Tristram Lansdowne

Algumas considerações sobre déjà-vu, lucid dreams e o ato de piscar rapidamente quando se olha fixo para alguma coisa

Duas ou três coisas que sei a respeito de sonhos em forma de rodapés.

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Déjà vu é uma expressão francesa que significa “já visto”. Se refere a um fenômeno que acontece quando se tem a sensação de estar em um lugar, com uma pessoa ou em uma situação que você tem a certeza que já aconteceu antes. É uma escorregada do cérebro e isso não significa que a pessoa que sofre de constantes déjà vus esteja capacitada para prever o futuro ou ter visões proféticas. Talvez ela tenha apenas um grau de esquizofrenia maior. Déjà vu é também o titulo de um filme dirigido por Tony Scott, interpretado por Denzel Washington, e o nome de músicas gravadas por Pitty, por uma cantora romena chamada Ina e por Beyoncé.

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Um dos problemas nos sonhos é que você esta à mercê do que seu cérebro vai costurando e não pode administrar o que acontece neles. Em 1867 o francês Marie-Jean-Léon Lecoq, barão de Hervey de Juchereau e marquês de Hervey de Saint-Denys, publicou o livro Les Reves et Les Moyens de Les Diriger: Observations Pratiques (que pode ser traduzido como “Os sonhos e como dirigi-los: observações práticas”). Nele, o sofisticado pesquisador levantou a teoria do lucid dream, que vem a ser uma maneira de controlar os sonhos e as realidades paralelas que o cérebro se entretém em tecer. Isso é possível com um pouco de treino e habilidade. Para que isso aconteça, é necessário respeitar quatro pontos. Um, saber que se está sonhando. Dois, ter consciência de que os objetos envoltos no sonho vão desaparecer depois de acordar. Três, que as leis da física não se aplicam no sonho. E, quatro, durante o sonho deve se ter plena consciência da memória do mundo real.

Além das vantagens oníricas óbvias, os lucid dreams se caracterizam, tecnicamente, por contemplar dois detalhes curiosos. Se em um sonho, digamos, tradicional, o tempo é um conceito que tem sabor elástico – incluindo mudanças bruscas de lugar e de cronologia –, nos lucid dreams, ele corresponde à contagem real do que acontece no mundo de quem está acordado. Além disso, os lucid dreams são mais realistas – mais cheios de detalhes e definição – e estão para os sonhos normais assim como as televisões em HD estão para as televisões analógicas.

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Os sonhos morrem primeiro. Esse é o titulo de um livro que bem poderia ser uma aventura de James Bond. Mas, na verdade, foi escrito por Harold Robins, publicado em 1997 e é uma história descartável. A melhor coisa é o título que, de uma certa maneira, é um fato que se repete na vida real.

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O ato de piscar rapidamente quando se está olhando fixamente para alguma coisa, seja ela real ou imaginária, se chama em inglês eyes wide shut. Esse é título do último filme que Stanley Kubrick dirigiu, baseado em um roteiro feito a partir da novela escrita por Arthur Schnitzler, em 1926, chamada Dream Story. Nela, um homem passa por diversas experiências durante uma noite depois de descobrir que sua esposa teve uma fantasia sexual com um marinheiro. No filme, o homem é Tom Cruise e a mulher, Nicole Kidman. Na época, eram casados, e acabaram se separando por razões tão confusas quanto a narrativa dos personagens do filme.

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Eu nunca sonho dormindo, apenas acordado.

*J. R. Duran59, é fotógrafo e escritor - www.twitter.com/jotaerreduran


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